Estrutura de Brasília/DF

Pessoal,

Um pouco disso já foi discutido informalmente por e-mail, mas acho interessante começar a registrar e comparar as idéias. O DF tem uma organização única no Brasil e mapeá-lo no OSM exige estabeler definições próprias, diferentes dos outros lugares. O ideal é tentar aproximar essas definições e fazer escolhas que “funcionem bem”.

Basicamente, o DF (tipicamente considerado um “estado”, embora não exatamente isso) é organizado em “regiões administrativas” (RAs), popularmente chamadas de “cidades-satélite” (apesar de existir um decreto proibindo esse termo). Não são cidades porque não têm “prefeitos”, apenas uma administração subordinada ao DF. Brasília é uma dessas regiões, apesar do mesmo nome frequentemente ser usado em referência a todo o DF.

Brasília é essencialmente composta pelo Plano Piloto e pelo Parque Nacional de Brasília. Decidir como mapear o parque é relativamente fácil.

O primeiro nível de divisão do Plano Piloto contém 3 áreas que ocupam todo o plano: o Eixo Monumental, e as asas Norte e Sul.

O Eixo Monumental possui alguns setores mas também possui outras áreas sem designação específica que não são setores. Estas eu não sei como/se constam em endereços postais. Se constarem, seria interessante tentar mapeá-las de alguma forma. Há coisas nessas áreas que podem ser mapeadas da forma regular: a Esplanada dos Ministérios (pode ser mapeada como uma grande praça), o Complexo Poliesportivo Ayrton Senna (pode ser mapeado como um centro esportivo).

Já as asas são divididas em superquadras e quase todas delas são subdivididas em alguns poucos setores.

Antes de introduzir a minha proposta “preliminar”, considerem a organização adotada pelo IBGE e pelos Correios.

Segundo esse novo esquema, o DF é tratado como município (chamado de “Brasília”) e as RAs como bairros. Por exemplo, uma carta endereçada a alguém dentro da RA de Brasília teria “Brasília” no campo do bairro, “Brasília” no do município e “DF” no do estado. Ou seja, o DF seria um “estado” com um único município, igual a ele próprio.

Aí surge o primeiro problema. Muitos habitantes locais ainda chamam as RAs de “cidades”(-satélite), e acho que esperariam que fossem tratadas como tal em navegadores GPS. Se concordarem, o modelo adotado pelo IBGE e pelos Correios não nos serve. De fato, quando eu mapeei os contornos das RAs, tratei elas como cidades. (Ainda podemos mudar.)

Depois, no caso da RA de Brasília, há 3 níveis de subdivisão. Atribuir um admin_level às áreas de cada uma é fácil (a RA de Brasília é 8, 9 seriam as 3 regiões do Plano Piloto, 10 seriam as suas primeiras subdivisões, e 11 seria uma subdivisão extra - os setores das superquadras). Mas fica um pouco complicado decidir o que colocar na tag “place” pelo seguinte: se os setores das superquadras são “neighbourhoods”, faria sentido que as superquadras fossem “suburb”, mas então o que seriam as 3 divisões do Plano Piloto?

Houve uma discussão no Facebook sugerindo que as superquadras fossem “neighbourhoods”, mas daí não temos valores para os setores delas. Eu tentei fazer isso, daí o que ocorre é que os nomes colidem ao renderizar e o renderizador não sabe escolher qual o mais importante.

O artigo sobre a tag place sugere um valor intermediário, “borough”. Ele poderia ser usado, mas atualmente não é suportado pela maioria dos renderizadores, ou seja, esses 3 nomes não apareceriam no mapa. Para aparecer, talvez pudéssemos mapear essas regiões temporariamente como “suburb”, o que as tornaria similares às superquadras, e solicitar que os principais renderizadores passassem a suportar borough.

Notem que as dificuldades ao subdividir o Plano Piloto no OSM seriam bem maiores caso Brasília fosse mapeada como um “bairro”, da mesma forma que o IBGE e os Correios fazem.

Por fim, a organização do Plano Piloto produz um problema difícil de tratar no OSM e nas suas aplicações: endereços de blocos. Como não são numéricos e sim alfabéticos (Bloco A, Bloco B, etc.), não dá pra usar interpoladores de endereço. Os próprios endereços dos blocos não teriam a tag addr:housenumber nem addr:housename (que geralmente é usado como complemento para addr:housenumber e quase nunca é usado quando falta essa outra tag). Além disso, as vias a princípio não têm “nome” (exceto algumas principais), os setores é que os têm. Sem interpoladores e sem endereços, apenas com o nome, grande parte das aplicações hoje não consegue fazer geocoding (apenas aquelas que estão intimamente vinculadas ao OSM).

Uma possível solução adotada por outros GPSs comerciais: pensar que os nomes das vias são “nome de setor” seguido de “nome do bloco”. Eu fiz assim nas SQNs 707 e 708 e também na SCRN 708/709, acho que seria uma “concessão” válida para permitir compatibilidade com esses sistemas. Isso é meio que “forçar a barra”, mas funciona com impacto mínimo nos sistemas que são mais próximos do OSM (ex.: o próprio Nominatim). Outra vantagem é que as buscas com o Nominatim retornam resultados exatos caso sejam feitas no mesmo formato usado para endereços postais pela população de Brasília (mas não testei todas as possibilidades).

Reflitam, experimentem, discutam. Chegando a uma recomendação, escrevam no wiki. Também é possível pleitear junto aos desenvolvedores das aplicações que suportem tags novas como addr:blocknumber (sugerida pra uso no Japão).

Olá, Fernando

Não estou familiarizado com os problemas práticos que podem ocorrer em aplicações, mas sobre a forma de mapear as quadras não acho que qualquer nomenclatura do OSM seja apropriada:

“neighbourhood”: seria o bairro (sem entrar na discussão se seriam “Asa Norte” ou “Águas Claras”)
“suburb”: seria algo como um agrupamento de bairros (uma região), algo como “Jacarepaguá”, no Rio, ou “Pampulha”, em BH.
“borough”: me parece que algo ainda maior do que um “suburb” e menor que uma cidade. Não posso citar nenhum exemplo.

Sendo assim, acho errado (e acho que pode gerar confusão nos navegadores GPS) mapear uma quadra como qualquer uma destas tags. De maneira geral, vejo que as quadras (especialmente as superquadras) são muito parecidos com condomínios fechados, com a diferença que são abertos. Como os condomínios são mapeados no mundo?

Num exemplo, chequei o condomínio Rio 2 no Rio de Janeiro e nenhuma tag é utilizada. Apenas há uma marcação de área com “landuse = residential”. Caso este seja um padrão mundial para os condomínios, as quadras não poderiam ser marcadas desta forma? Isto pode gerar algum problema com os navegadores GPS?

Sim, condomínios são mapeados com a tag landuse=residential, só. Se forem protegidos por uma cerca, podem eventualmente incluir a tag barrier=fence, ou se for por um muro, por barrier=wall.

Tanto isso pode que na SQN 708 eu apliquei essa tag à própria quadra, além da tag place e da tag admin_level. Podemos experimentar. Um problema (que é mais prático) é que em praticamente todos os renderizadores o nome das quadras só vai aparecer nos níveis de zoom mais aproximados, isso pode causar alguns problemas de usabilidade. Outra questão é que poucas aplicações estariam preparadas pra determinar dentro de que subdivisões da cidade um certo ponto está (só recentemente o Nominatim adicionou a capacidade de descobrir dentro de que áreas com landuse=residential se está, e não sei como ele se comporta quando há várias dessas áreas sobrepostas, como seria o caso das SQNs subdivididas em setores).

Mapeei os setores das superquadras 706 e 705 pra ficar fácil de comparar as duas abordagens. Alguns mapas podem levar alguns dias pra atualizar.

De cara já surge a dificuldade de representar as superquadras (que eu acabei não mapeando). Depois, os nomes dessas áreas só aparecem a partir do nível 16, e já no nível 17 eles começariam a competir com os nomes dos blocos. Em comparação, os nomes dos bairros aparecem a partir do nível 14 e têm prioridade sobre outros elementos em todos os demais níveis (isso às vezes é bom e às vezes é ruim).

No mapa da Mapbox (principal mapa usado pelo OSRM), já atualizou, e não aparecem os nomes das SQNs 706 e 705. Nenhum outro mapa atualizou ainda. Olhando áreas similares aqui em Porto Alegre, dá pra prever que:

  • na camada humanitária vai ficar bom, mostrando a partir do nível 15 e com prioridade sobre os nomes das ruas
  • na camada de ciclismo do site principal, deve aparecer a partir do nível 15, mas com pouco destaque
  • na de transporte público e na do MapQuest, não vai aparecer a menos que seja mapeado como bairro

Como Brasília aparece nos “concorrentes”? Podemos ver como eles fazem - não para copiar os dados obviamente, mas para ter uma ideia.

[]s
Arlindo

Os grandes concorrentes não vão nada bem em Brasília. Eu me inspirei no Here Maps pra sugerir uma nomenclatura das vias. O Bing parece ter adquirido o mapa deles, está muito parecido. Nenhum dos dois identifica as quadras em si, ao invés disso eles confiam apenas nesse “truque” com o nome das vias. O Google parece tratar cada quadra como um bairro (mesmo tipo de fonte no texto do título), mas usa como nome principal o nome por extenso, e daí o mapa fica bastante poluído e confuso.

Teria curiosidade em saber como está no TrackSource, mas suspeito que estará parecido com o Here.com/Bing.

Só pra facilitar a discussão, as superquadras que eu citei até agora ficam aqui: http://www.openstreetmap.org/#map=16/-15.7695/-47.8919

Ninguém mencionou ainda mas um pouco mais pro norte, na SCRN 708/709, eu sugeri um uso dos interpoladores para numeração de casas e lojas. Isso é meio que um preciosismo (bem pouco necessário em Brasília na prática), mas acho interessante pensar que existiriam quando o mapa estiver mais completo.

Talvez devamos buscar inspiração também nos mapas em papel, mas nisso a melhor ajuda viria dos moradores locais.

Mapa em papel, eu só conheço um e é horrível! :confused:

Para colocar endereços, eu pego como base os mapas da Secretaria de Habitação. Confesso que nunca olhei o da Asa Norte… Meu interesse maior é com relação às cidades de Taguatinga, Guará e Vicente Pires.

Fernando, eu acho que está muito bom o jeito que você fez! Muito melhor que o Google! Aliás, vocês repararam que o G Maps inclui o layout dos prédios no mapa?

Me sinto um pouco mais aliviado de ouvir isso de alguém que mora no local. :smiley:

Esses mapas da Secretaria de Habitação estão disponíveis online? Você tem o link?

Me parece que Taguatinga, Guará e Vicente Pires têm uma organização bem parecida. Ao invés de bairros, essas RAs são subdidividas em “quadras” (ou “setores” em Vicente Pires), que são então divididos em lotes ou em blocos. Achei alguns endereços com lotes numéricos e outros com blocos alfabéticos. Onde for alfabético e por blocos do tamanho de prédios (digo isso porque em outros lugares do mundo um “bloco” pode ser o equivalente a uma “quadra” de Brasília), poderia seguir exatamente a mesma forma de mapear que eu propus ali na SQN 707. Onde for numérico, talvez dê pra se aproveitar os interpoladores pra simplificar um pouco o mapeamento.

Como não achei tantos endereços e os poucos que eu achei não me inspiram total confiança (têm uma certa “variação” no formato, que pode ser por algum motivo histórico que eu não conheço), seria interessante começar a compilar alguns endereços para cada RA. Compará-los pode ajudar a escolher uma forma de mapear mais genérica pra todo o DF. (Uma única regra facilita na hora de explicar pros novos como fazer e por quê fazer desse jeito.)

Ah, mais uma coisa que pode interessar nessa discussão e pras comparações: na SQN 705 eu não cheguei a dar nomes às vias. Experimentem buscar com o Nominatim por blocos nessa SQN e blocos, digamos, na 706. Vocês vão ver que o resultado é diferente (só tem 1 resultado ao invés de 2). Se alguém estiver usando um conversor pra uso em aparelhos GPS, tentem procurar no GPS por blocos em ambas as quadras; provavelmente não conseguirão localizar nada na SQN 705, só na 706 e nas outras.

Tá na mão: SedHab :sunglasses:

Hm uma dúvida: sabe quais são os limites exatos da Asa Norte e da Asa Sul? Por exemplo, SMU seria na Asa Norte? E SIG seria na Asa Sul?

Não sei os limites exatos, mas o SIG faz parte do Cruzeiro, não de Brasília. O SMU, sim, faz parte do plano, mas creio que seja um bairro independente da Asa Norte. :wink:

Bem, então me parece que Asa Norte, Asa Sul e Eixo Monumental são mais “regiões livres” do que “subdivisões”.

Uma pergunta: quando se manda uma carta em Brasília, o que é preenchido para o bairro? Asa Norte/Asa Sul/Eixo Monumental ou o nome do setor?

Eixo monumental é uma rua. Asa Sul e Asa Norte são bairros, mas não são utilizados no endereçamento de cartas.
SQS 416, por exemplo, já basta para saber que é Asa Sul. SQN, Asa Norte. CMSW, sudoeste e assim por diante.

Fernando, no TrackSource não há divisões em Brasília, só o quadradão! E então, só tem os nomes nas ruas, elas só pertencem ao mapa DF. Daí que surgem vários problemas lá, por exemplo pra pesquisar uma quadra que tem o mesmo nome no Guará e Taguantinga, sim, isso acontece, rs. Por exemplo QI 1 e QI 3, a pessoa ficaria perdida. Então uma forma que encontramos foi adicionar ao logradouro da rua o nome da cidade, ficando QI 3 - Taguatinga, enfim, uma bagunça. OpenStreetMap e você vieram nos salvar quando adicionou os limites administrativos.

Então é mais um argumento a favor de mapear o DF dessa forma, vendo RAs como “municípios”, mesmo que os Correios e o IBGE as vejam como bairros. Feliz de ter ajudado. :smiley:

Como você sabe se podem ser usados?

Alexandre,

já houve uma discussão em torno do tema e o entendimento final foi de que as informações oriundas de órgão público podem ser utilizadas.
Não lembro se a discussão foi por email ou aqui no fórum… se você não concorda com a afirmação acima, seria bom abrir um novo tópico para discutirmos novamente.

Abraços, Linhares

Trebien e Linhares. Acho que poderíamos passar neighbourhood para conjunto, nas quadras ficariam place=quarter, pois aqui muitas cidades tem essa estrutura dentro das quadras.